.“Sabia que pode existir um tipo de egoísmo bom pra gente não
descartar?”
Calma lá! Não me apedreje por isso sem antes tentar entender a
sinceridade de quem falou. É porque não conseguiram a expressão certa
pra definir este sentimento. Sabe aquela sensação necessária de – ao
menos de vez em quando – olharmos mais pro nosso umbigo e menos pros dos
outros?
“Que horror, pastor! Onde já se viu uma coisa dessas?”, você
até tem direito de censurar. Mas quando eu olho tanta gente por aí
desesperada em ganhar derrotando os outros, procuro imediatamente uma
trincheira pra me proteger. É quando eu percebo que não podemos proibir
os outros de entrarem nos seus octógonos de lutas-livres, porém é nosso
direito inalienável nem chegar perto destas arenas do terror. Certo?
E depende de quem?
De ninguém mais além de cada um de nós. Ponto final.
Oras bolas! Que se lixem os inseguros armados de estratégias pra
vencerem seus pódios passageiros. Eu ficarei de fora pra curtir
minha vida de sucesso ordinário com prazeres extraordinários.
Ou voar de primeira classe vale mais que beijar minha filhota antes de
dormir? E quem disse que uma promoção profissional compensa a liquidação
familiar? Amigos valem mais que bônus no salário e fotos memoráveis
ultrapassam qualquer fanatismo pelo poder.
O mais incrível? O Grande Mestre falou exatamente disso quando tentou
nos fascinar com a despreocupação dos lírios e pardais. No entanto,
cismamos neuroticamente em virar espinheiros e leões da selva. Não é no
mínimo estranho? Pra não dizer cansativo e vazio?
Minha filha tem o admirável poder ultra-sobrenatural de se desligar
do que acontece ao seu redor quando brinca no seu mundo de fantasia pelo
tapete da sala. Às vezes, precisamos chamá-la três ou quatro vezes pra
ela se re-conectar ao mundo dos humanos. Um problema? Acho que não. Eu é
que preciso aprender com ela a suprema habilidade de mergulhar nos meus
sonhos em meio às tempestades de pesadelos dos outros.
Sabe aquela expressão “refúgio”? Isso
mesmo! É algo, um lugar, ou sentimento, que nos projete a uma dimensão
mais sublime que a insegurança da vizinhança. E tem gente incapaz de se
dar ao direito de encontrar seu refúgio por causa da obsessiva corrida
contra o tempo. Quer saber? Viva em paz – ainda que outros só
sobrevivam em pé de guerra. Que os doidos e suas doideiras
sigam perambulando suas neuras – eu decido priorizar o que é raridade
nesta terra de desatentos: família, honestidade, pureza, amigos, sono,
copos d’água, exercício, e por aí vai…
Não que seu umbigo seja mais importante que andar de mãos dadas com
quem lhe faz bem, mas sim, que a felicidade pessoal não pode ser
subjugada pela insensibilidade coletiva. Amo o Livro do Mestre
que diz pra “amar ao próximo COMO a ti mesmo” (Mateus 22:39) .
Nem mais e – incrivelmente! – nem menos. Por isso a diferença de um
mártir para um suicida é exatamente a felicidade pessoal e existencial
que capitaliza seu sentimento. Enquanto um já não vê, não consegue, nem
quer encontrar seu sonho, o outro não admite perder seu ideal soberano –
ainda que, pra isso, precise abrir mão da própria vida.
Interessante, não é? Muitas vezes, deixar-se consumir pela
defesa da SUA felicidade é esquecer um pouco dos outros pra dar-se ao
valor de se lembrar de si mesmo. E não acho que isso seja um
egoísmo nocivo. É o amor
próprio que embala nossa alma num sentimento de plenitude
inigualável.
Que tal? Pronto pra seguir adiante? Com os
outros, além dos outros, ou apesar
dos outros? Cedo ou tarde, todos nós descobriremos que certas
descobertas são exclusividades absolutas daquilo que precisamos
reivindicar de ninguém mais…
… Além de nós mesmos. E graças a Deus.
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